Referendado

Ora bem, como considero ridícula a quantidade de debates, artigos de opinião, entrevistas e similaridades à volta do referendo vista neste país nos últimos tempos, clara e notoriamente baixa com todos a desesperarem por mais, cá vai a minha visão das coisas...

Ontem lá fui eu votar, como faço sempre que é pedido ao povo português que se expresse democraticamente, seja qual for a razão. Fui sozinho, mas por escassos segundos não me cruzei com um bom amigo meu, que arrancava no seu Mazda preto na precisa altura que eu saía do edifício. O seu voto foi, muito provavelmente, no sentido contrário do meu, facto que não me impediu de ter ficado contente pela sua presença. Aliás, sabia perfeitamente que não deixaria de ir votar e é precisamente este o primeiro facto a merecer a minha atenção: acho incrível que praticamente 3 em cada 5 portugueses não tenham sentido em si o dever cívico de ir votar, bem como a importância da questão colocada em cima da mesa. A abstenção baixou uns insuficientes 12% em relação a 1998, isto apesar de toda a campanha, de toda a mediatização, de todo o apelo ao voto. Para mim está visto, o povo português não merece ser consultado e a não ser que se pergunte se o Pepe deve ir à selecção ou se a Floribela deve ou não ficar com o conde, qualquer referendo futuro será certamente tão vinculativo como os dois já realizados.

Ainda assim não posso deixar de ficar contente com a "vitória" do sim. Nunca escondi o sentido do meu voto, sem no entanto entrar em campanha. Qualquer um dos lados possui argumentos válidos (o que não impediu todos aqueles que participaram nas campanhas de optarem mais regularmente pelos argumentos estúpidos, igualmente divididos pelas duas ideologias, ou mesmo pelo ataque simples e gratuito) e penso que cada um devia ouvir a sua voz interior para votar em consciência. Eu nunca hesitei, sempre soube muito bem onde ía colocar a minha cruzinha, pois à pergunta que me colocaram não podia responder doutra forma. Isto apesar de ser completa e totalmente contra o aborto, e de achar que o governo devia investir seriamente no apoio às mulheres grávidas, ao invés de em clínicas especializadas para o efeito, para que a interrupção da gravidez seja efectivamente o último recurso. Mas não foi a linha de actuação do governo que foi referendada...

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